EXÍLIO

Este domingo, imediatamente anterior ao início da Quaresma, recorda o Exílio do Paraíso, convidando-nos a participar do “Lamento de Adão” sobre um Paraíso Perdido. Como e por que devemos nos identificar com todo o tema do Exílio, que é um leitmotiv da Grande Quaresma? Note que esse também é o tema principal do Salmo 136/137, “Junto aos rios da Babilônia…”, cantado em nossas igrejas nos últimos três domingos, portanto, há algo muito importante sobre o Exílio que devemos reconhecer como parte de nossa história humana (ou humano-divina), ao entrarmos no Lamento voluntário e coletivo do período da Quaresma.

Todos nós passamos por alguma forma de exílio, ou separação de algo ou alguém amado, em algum momento de nossas vidas. Alguns de nós são de países devastados pela guerra ou por outros problemas, dos quais tivemos que sair e dos quais podemos sentir saudades. Alguns de nós passaram por um doloroso divórcio de um cônjuge outrora amado. Outros de nós podem ter perdido o emprego ou um ente querido que faleceu, e podemos nos sentir perdidos sem ele. Talvez tenhamos sofrido um esgotamento nesta ou naquela profissão e sentimos que nos perdemos. Ou talvez tenhamos perdido nossa liberdade ao cair em um vício ou obsessão debilitantes, que agora nos afastam dos outros, até certo ponto.

Todas essas são diferentes experiências que podem nos ajudar a nos identificar com as narrativas bíblicas relacionadas ao Exílio. E podemos canalizar nossa dor para as mãos curativas de um Pai amoroso, nosso Deus amoroso, que nos veste (como fez para Adão e Eva no final de Gênesis 3) antes de nos confiar o novo e criativo trabalho que nos foi incumbido em nosso exílio. Esse “trabalho” é descrito em Gênesis 3 como gerar filhos e trabalhar o solo, simbolizando os tipos de criatividade concedidos por Deus com os quais somos abençoados de diferentes maneiras, nossa criatividade que gera nova vida em nosso mundo.

Não se trata de um “lamento” desprovido de alegria ou improdutivo, é o que quero dizer, mesmo que tenhamos esse vazio em nosso coração que “recorda” nosso Paraíso Perdido. Na via crucis, que sempre leva à ressurreição, nossa dor é transfigurada em uma nova vida, com a bênção e a “vestimenta” de Deus. A nova vestimenta na Era da Igreja é o fato de estarmos revestidos de Cristo, todos nós que fomos batizados em Cristo. Estamos voltando a entrar em contato com essa realidade, com essas verdades, durante toda a Quaresma, para que possamos “refazer a história” de nós mesmos e recuperar uma perspectiva apropriada de nossa história comum, humana e divina, que não é sem sentido nem sem propósito em nosso exílio. Enfim, essas são algumas reflexões sobre nossa futura e nobre jornada rumo à Páscoa. Feliz Quaresma para vocês, queridos amigos. Perdoem-me e orem um pouco por mim, se puderem.

Versão brasileira: João Antunes

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