“Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos” (Lucas 23,12a)
Assim como algumas amizades são mortais, como foi a amizade de Herodes e Pilatos, que surgiu de sua colaboração para o suplício e a crucificação de Nosso Senhor, o mesmo acontece com certos casamentos. Estou refletindo nisso hoje por dois motivos:
1. Em minha Igreja, é a festa da Decapitação de João Batista, que foi degolado por causa do casamento de duas pessoas que não deveriam ter se casado. Herodes Antipas (filho do Herodes que matou os recém-nascidos de Belém) decapitou João a mando de sua esposa ilegítima, Herodias, que antes era esposa de seu meio-irmão Filipe. Ela também era sobrinha de Herodes e neta de Herodes, o Grande. Ela se divorciou de seu tio Filipe (e Herodes se divorciou de sua esposa Fasélia) para se casar com seu tio Herodes. Juntos, Herodes e Herodias provocaram a morte do precursor do Senhor, mas não geraram vida; não tiveram filhos próprios.
2. Houve outro casamento escandaloso que aconteceu há poucos dias na Rússia: Maria Lvova-Belova, há pouco tempo esposa de um sacerdote Ortodoxo russo e Comissária de Putin para o Direito das Crianças (não se deixe enganar pelo título), casou-se com o recém-divorciado “oligarca Ortodoxo” Konstantin Malofeev, que armou os insurgentes na região de Donbas na Ucrânia a partir de 2014 e fundou o canal de TV “Ortodoxo” pró-guerra Tsargrad. Lvova-Belova e seu agora ex-marido, o padre Ortodoxo russo, tiveram cinco filhos juntos e estavam criando mais cinco filhos adotivos. O casamento luxuoso de Lvova-Belova e Malofeev é particularmente escandaloso, porque tanto ela quanto Malofeev têm defendido nos últimos anos os “valores tradicionais da família” como sua mensagem primordial. E ambos estão envolvidos em crimes de guerra na Ucrânia. No caso de Lvova-Belova-Malofeeva, o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra ela, juntamente com um mandado de prisão contra Putin, por ela ter comandado a deportação ilegal de milhares de crianças ucranianas para a Rússia.
Na época de Herodes e Herodias, os judeus ficaram atônitos e revoltados com seu casamento profano. Os dois haviam cometido um pecado de acordo com suas sagradas Escrituras: “Se um homem tomar a mulher do irmão, isso é uma impureza; porque descobriu a nudez do seu irmão, morrerão sem filhos” (Levítico 20,21) O casamento deles não podia gerar vida, mas produziu morte, a morte de João Batista.
Em nossos dias, o casamento de Malofeev e Lvova-Belova escandaliza as pessoas não tanto por causa do adultério, mas por causa da hipocrisia dessas duas pessoas, que se envolveram em crimes de guerra contra a Ucrânia e as crianças ucranianas, enquanto propagavam “valores tradicionais da família”. O “casamento” deles não é sinal de uma união que gera vida, como o casamento é visto tradicionalmente. É um sinal contrário, que significa morte. Santo e Grande João, precursor do Senhor, rogai a Deus por nós! E especialmente pela Ucrânia!
Versão brasileira: João Antunes
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