FALA versus SILÊNCIO

Cri, por isso falei: estive muito aflito.” (Salmo 115,1/116,10)

Geralmente, é o silêncio, e não a fala, que está associado à humildade (e à maioria das outras virtudes) na piedade Ortodoxa. Mas a citação acima é uma das inúmeras passagens de nossa Tradição que celebram a fala, a fala baseada na fé e sua graça de humildade. Nem sempre é melhor, ou mais piedoso, ficar em silêncio. Podemos causar grandes danos a nós mesmos e aos outros, especialmente aos mais próximos, se não falarmos o bastante, se nos mantivermos reservados. Hoje em dia, muitas vezes preferimos enviar mensagens de texto, o que mantém as pessoas à distância ou fora do espaço e do tempo “reais”, mas as mensagens de texto não substituem a boa e velha conversa cara a cara.

A citação acima é um momento muito bonito e cheio do Espírito que o salmista compartilha conosco, para que não pensemos que o silêncio é sempre a opção “humilde”. O salmista foi compelido a falar, por e a partir da convicção de sua fé, e “estava muito aflito” por se estender dessa forma. Ele compartilhou de si mesmo, quando poderia ter ficado em silêncio, mas a fé o fez abrir seu coração da maneira sacrificial que fez. E por “sacrificial” quero dizer santificante (“sacri-fício” vem de “sacer” e “facere”, que significa “tornar santo”). A doação de si mesmo ao falar, à moda antiga, é algo arriscado, porque a “presença real” uns com os outros nos expõe mais por meio de seu imediatismo. Mas é uma coisa maravilhosa quando nos permitimos falar com fé e humildade, como dizemos neste Salmo: “Cri, por isso falei…”.

Portanto, falemos, para Deus e uns para os outros, e não nos firamos uns aos outros com silêncios egocêntricos, quando deveríamos estar oferecendo o “sacrifício aceitável” (Λογική λατρεία) de falar. E para aqueles de nós que estão começando o Jejum da Dormição hoje, — um abençoado jejum!

Versão brasileira: João Antunes

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