MARTÍRIO E TESTEMUNHO

Disse-lhe a porteira: ‘Tu não és um dos discípulos desse homem?’. Ele [Pedro] respondeu: ‘Não sou’.” (João 18,17)

Pedro é o mesmo homem que, ainda nesse mesmíssimo capítulo do Evangelho segundo São João, desembainhou uma espada quando nosso Senhor foi preso no Getsêmani e, em uma tentativa vã de defender Seu Mestre, cortou a orelha direita do servo do sumo sacerdote (João 18,10). Mas ninguém pediu ou “chamou” Pedro para fazer isso. No entanto, um pouco mais adiante, quando Pedro estava esperando com os servos no pátio do sumo sacerdote “para ver o desfecho de tudo aquilo” (Mateus 26,58), onde ele foi realmente “chamado” a se levantar e ser contado no rol dos discípulos do Senhor de uma forma menos dramática, — para responder com sinceridade à simples pergunta de uma criada, — ele não o fez.

Enquanto nós, que seguimos o Calendário Juliano Tradicional, prosseguimos com o Jejum dos Apóstolos, conhecido na minha Igreja como Petrovsky Post ou “Jejum de Pedro”, e eu estou passando uma segunda noite em um centro de cuidados paliativos “para ver o desfecho” da vida do meu pai, essa parte da história de São Pedro veio à minha mente. Embora a maioria dos profissionais desse centro de cuidados paliativos tenha sido maravilhosa, houve “momentos” difíceis com um deles, quando me exaltei um pouco e disse algo que não deveria ter dito.

Não sei se vocês perceberão a conexão com a história do Evangelho, meus leitores, mas é assim que eu a vejo: o chamado para ser um “mártir” ou “testemunha” do Senhor nem sempre vem envolto em heroísmo e cavalheirismo extraordinários. Ele pode vir a mim nos pequenos desafios à minha fidelidade a Ele e ao “eu” que Ele me chama para ser; em conversas e em lidar com encontros “aleatórios” com desconhecidos. Senhor, conceda-me a fé e a paciência para ser o “eu” que o Senhor me chama para ser, a despeito das circunstâncias. Amén!

Versão brasileira: João Antunes

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