A NUDEZ DOS GRANDES

Noé, que era agricultor, foi o primeiro a plantar a vinha. Tendo bebido vinho, embriagou-se e despiu-se dentro da sua tenda. Cam, o pai de Canaã, ao ver a nudez do pai, saiu a contar o sucedido aos seus dois irmãos. Então Sem e Jafet agarraram uma capa, colocaram-na sobre os ombros e, andando de costas, cobriram a nudez do pai, sem a terem visto, porque não voltaram o rosto para trás. Quando despertou da sua embriaguez, Noé soube o que tinha feito o seu filho mais novo e disse: ‘Maldito seja Canaã! Que ele seja o último dos servos dos seus irmãos’.” (Gênesis 9,20-25)

Noé não sabia que o vinho o deixaria bêbado, porque ele foi o primeiro a produzir e beber vinho, e a experimentar seus efeitos. Os filhos de Noé também não sabiam por que seu pai, o grande Noé, que os havia resgatado na arca por ter sido considerado por Deus o único “homem justo e perfeito, entre os homens do seu tempo” (Gênesis 6,9), estava agora deitado nu em um estranho estupor em sua tenda. Portanto, essa não é uma história sobre um pai alcoólatra habitual e seus filhos que sofrem há muito tempo. É uma história sobre filhos com um grande pai, que agora se encontrava em uma situação nunca vista antes, na qual era de se esperar que eles lhe dessem o benefício da dúvida.

Que eu me recorde hoje de dar um desconto às grandes pessoas em minha vida, se elas parecerem me “decepcionar” de alguma forma. O desapontamento com os outros é um sinal de alerta de que eu cruzei os limites da “zona de Deus”, na qual desfruto das dádivas do Seu modo de ser — de misericórdia, compaixão e gratidão — embora somente Ele seja o Juiz onisciente. Como rezamos na Oração Quaresmal de Santo Efrém: “Sim, Senhor e Rei, concedei-me ver os meus pecados e não condenar o meu irmão, porque sois bendito pelos séculos dos séculos. Amén”.

Versão brasileira: João Antunes

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