LANÇAR PÉROLAS AOS PORCOS

Não deis as coisas santas aos cães nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, para não acontecer que as pisem aos pés e, acometendo-vos, vos despedacem.” (Mateus 7,6)

O que Nosso Senhor quer dizer aqui: 1. com as “coisas santas” e com nossas “pérolas”? E 2. Quem são os “cães” e “porcos” aos quais não devemos dar essas coisas?

1. As “coisas santas” e as “pérolas” em nós são nossos dons de Deus e concedidos por Deus, como por exemplo, o amor, a fé, a sabedoria, o temor de Deus, o desejo (tanto espiritual quanto físico), a beleza (tanto espiritual quanto física), a criatividade, a compaixão, etc. 2. Os “cães” e “porcos” com os quais podemos ser tentados a desperdiçar nossos dons e energias dados por Deus não são outras pessoas, porque nunca devemos considerar outras pessoas como “cães” ou “porcos”. São, antes, os espíritos malignos que podem nos enredar em obsessões pecaminosas, como a luxúria, o amor ao dinheiro ou ao poder (e o desejo de controlar outra pessoa ou pessoas), a vanglória, o medo egocêntrico, a ociosidade, o desânimo, etc. Por exemplo, no caso do chamado “amor não correspondido” (que é mais luxúria do que amor, se insistirmos em oferecê-lo de maneiras indesejadas), podemos nos encontrar entregando todo o nosso amor, todo o nosso desejo, todas as nossas belas energias dadas por Deus não ao ser humano visível, de carne e osso, que é o sujeito do nosso “amor” (porque ele ou ela não precisa dele, por qualquer motivo), mas a um espírito voraz que está “nos despedaçando”. Como escreve São Paulo, “não é contra os seres humanos que temos de lutar, mas contra os Principados, as Autoridades, os Dominadores deste mundo de trevas…” (Efésios 6,12a). Note que podemos cair nesse tipo de descontrole não necessariamente com algum interesse romântico; isso também pode acontecer com nossos “amores” não românticos, como com nossos filhos, pais ou irmãos (afastados). Também podemos nos exceder em certas atividades ou coisas que “amamos”, mas que não podem nos amar de volta.

Hoje, se nos encontrarmos “despedaçados” por alguma obsessão, seja ela a luxúria, o vício no trabalho ou qualquer outra coisa, não nos tornemos amargos com outras pessoas ou com o próximo, nem com nós mesmos. Primeiro, reconheçamos o valor das “coisas santas” e das “pérolas” preciosas que existem em nós. E então, com gratidão e em espírito de oração, coloquemos a nós mesmos e nossos dons onde eles pertencem, diante de Deus, pedindo a Ele que redirecione nosso amor, desejo e beleza para o Seu propósito para nós, enquanto perdoamos a nós mesmos e aos outros por toda a questão do nosso “pecado” (ou seja, nossa “amartia” ou “errar o alvo” do propósito ou da vocação que Deus nos deu) e acolhamos novamente nossa liberdade de seguir em frente. Respeitemos também a liberdade dos outros de fazer suas próprias escolhas. Graças Te dou, Senhor, por nos guiar e nos manter como Tuas preciosas obras em progresso, cheias de “pérolas” preciosas, mesmo quando não as usamos adequadamente. Glória a Ti.

Versão brasileira: João Antunes

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