“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11,28ss)
A leitura citada acima é do sábado que precede a Quaresma, o sábado de todos os Santos Padres “portadores de Deus” (θεο-φόροι, бого-носные), ou seja, os grandes ascetas que vieram para “portar” ou carregar Deus dentro de si, dedicando suas vidas inteiramente à vida centrada em Deus. Eles deixaram as fileiras daqueles “que estão cansados e oprimidos” com preocupações meramente humanas e, em vez disso, escolheram assumir o “fardo leve” de Deus e de Seu Filho crucificado e ressuscitado, em Seu tipo de mansidão e humildade.
Ao entrar na Quaresma, o grande período de jejum e oração centrados em Deus, que eu deixe as fileiras daqueles “que estão cansados e oprimidos” com preocupações meramente humanas, como ressentimentos e medos egocêntricos, e adote Deus como meu foco principal. Faço isso não apenas “espiritualmente”, mas também fisicamente, planejando com antecedência em termos de gestão de tempo e dieta (portanto, precisarei fazer algumas compras hoje) para a Quaresma. Como qualquer mudança saudável em minha disciplina diária, acho que adotar a disciplina quaresmal não é primordialmente uma questão de “força de vontade”, mas de gestão do tempo.
O que é maravilhoso em carregar dentro de si ou “portar” Deus, o que torna Seu fardo “leve”, é que Seu Filho o carrega comigo, na jornada de carregar a cruz que Ele compartilhou comigo. Portanto, entrego a Ele os fardos do isolamento e da autossuficiência, deixando que o fardo d’Ele seja o meu, e o meu seja o d’Ele. Também entrego a Ele todos os ressentimentos que tenho carregado, seja em relação aos outros ou a mim mesmo, como fazemos em nossa tradição no Domingo do Perdão que precede o início da Quaresma, e abro meu coração para Sua mansidão e humildade libertadoras.
Versão brasileira: João Antunes
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