“Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levar para onde não queres.” (João 21,18)
Nessa passagem, Nosso Senhor estava falando ao apóstolo Pedro sobre a morte do apóstolo por crucificação, “para indicar o gênero de morte com que ele havia de dar glória a Deus”. Mas isso me faz refletir sobre nosso processo de envelhecimento em geral, que para muitos de nós envolve estarmos cada vez mais “atados” por doenças físicas, que restringem nossa mobilidade e capacidade de “ir para onde queremos”. Quando deixamos Deus atuar em nossa(s) dor(es) física(s), podemos fazer uso das novas limitações físicas trazidas pela idade para nos concentrarmos mais em nosso aqui e agora, em vez de nos “outros lugares” que talvez tenhamos buscado no passado. Também nos sentimos motivados a cuidar de nós mesmos e a procurar ajuda médica, o que talvez tenhamos negligenciado em nossa juventude. Na fé, essas circunstâncias podem nos levar a um novo tipo de crescimento, à atenção plena e a um amor próprio saudável, para os quais talvez não tivéssemos tido tempo anteriormente.
Observemos que a dor emocional e espiritual também pode ser um alerta, tanto para os jovens quanto para os idosos, para que se concentrem aqui e agora na causa dessa dor e busquem a ajuda do Médico dos médicos. Se estivermos atados por alguma doença espiritual, como ressentimentos em relação aos outros ou a nós mesmos, podemos considerá-los como um toque no ombro para reconhecê-los e lidar com eles com humildade, quando eles se manifestarem e nos causarem dor. Por “com humildade” quero dizer com confiança em Deus e não com confiança em nós mesmos. Por exemplo, se eu sentir irritação, frustração, decepção, raiva ou algum outro incômodo em meu coração, posso me afundar nele, ocultá-lo ou tentar fugir dele de alguma forma doentia, como deixar de lado o amor, a esperança e a fé que preciso nutrir em mim mesmo e nos outros e, em vez disso, explodir contra todos nós. Esse seria o meu caminho, que me faz andar em círculos em vez de crescer. Mas se eu escolher o caminho da confiança em Deus, que não é o caminho que leva a andar em círculos, mas o da Cruz, faço uma pausa e vejo a situação à luz d’Ele. Aceito a honestidade gentil que é a humildade e me permito ver a verdadeira fonte do meu problema, que geralmente é algum tipo de medo.
Quando superamos esse medo por meio da fé no Deus que nos ama e que tem fé e esperança em nós, como somos, podemos “dar glória a Deus” pela morte que morremos, nesse caso, uma morte para o “pecado” de andar nesses círculos vazios. Graças Te dou, Senhor, por nos libertar desses círculos, por meio de Tua honrosa e dignificante Cruz.
Versão brasileira: João Antunes
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