“Perguntou-lhe [à Maria Madalena] Jesus: ‘Mulher, por que choras? Quem procuras?’. Supondo ela que fosse o jardineiro, respondeu: ‘Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar’. Disse-lhe Jesus: ‘Maria!’ Voltando-se ela, exclamou em hebraico: ‘Rabôni!’ (que quer dizer Mestre). Disse-lhe Jesus: ‘Não me toques (Μή μου ἅπτου / Noli me tangere / Не прикасайся мне), porque (γὰρ) ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’.” (João 20,15ss)
À medida que muitos cristãos celebram a Ascensão do Senhor nesta quinta-feira (e nós, cristãos ortodoxos, nos preparamos para celebrá-la na próxima quinta-feira), estou refletindo sobre o que o Senhor diz à Maria Madalena a respeito de Sua Ascensão vindoura. Ela não deve “tocá-l’O” como antes, fisicamente, “porque” Ele ainda não havia “subido” para assentar-se à direita do Pai, de onde Ele deveria enviar Seu Espírito Santo , dez dias depois de Sua Ascensão, no Pentecostes. A Ascensão serviu para tirar a Presença física de Cristo de nós, e nos preparar para um novo tipo de Sua Presença entre nós, no Espírito Santo, no Qual nos é dado “tocar” Cristo de uma nova maneira, nos sacramentos da Igreja. Cristo está preparando Maria para essa nova realidade, porque, aparentemente, Ele sabe que ela está pronta para isso, mesmo quando a “dúvida” de Tomé não, a quem foi dado fisicamente tocar as feridas do Senhor ressuscitado (João 20,24-29).
Por que Cristo Se retiraria de nós, fisicamente, em Sua Ascensão (física) para assentar-se à direita do Pai, a fim de inaugurar os sacramentos da Igreja? Porque 1. Ele queria demonstrar-nos Sua unidade com o Pai, como o “lugar” do qual a graça de Deus, o Espírito Santo, é derramado sobre nós; e 2. Porque neste projeto que Cristo estava inaugurando, chamado “Igreja”, Ele estava confiando a celebração desses sacramentos a seres humanos fisicamente presentes, Seus apóstolos e Seus seguidores, aos quais Ele deveria capacitar a fazê-lo com a (invisível) graça do Espírito Santo, e não mais com Sua Presença (visível), da maneira como era “palpável” para nós em toda a Sua missão terrena. Assim como nosso Senhor se prepara para elevar os seres humanos falíveis, os apóstolos e todos nós, a sermos vasos do Espírito Santo neste mundo, Ele “ascende” ao Pai em Seu corpo humano, elevando assim nossa humanidade (em Seu corpo humano) a um “lugar” mais alto do que antes. Quando Ele ascende, Ele restaura nossa dignidade, que havíamos perdido quando seguimos o conselho sem Deus da serpente (Gênesis 3,1-7), e que continuamos a perder sempre que somos apanhados nos círculos sem sentido de nossas obsessões e vícios. Então que eu saia dos círculos sem sentido hoje, e seja elevado à vivificante cruz, que aponta em todas as quatro direções, me estendendo e me dignificando à auto-oferta como Cristo fez, em Seus braços abertos estendidos na cruz.
Versão brasileira: João Antunes
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